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Assim que os primeiros efeitos da tragédia sanitária provocada pela pandemia de Covid-19 durante um governo negacionista começaram a se tornar conhecidos no Brasil, um grupo de cientistas sociais deu início a uma série de reflexões no site de Dilemas: Revista de Estudos de Conflito e Controle Social, uma publicação do Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana (Necvu), associado ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

A iniciativa ganhou dezenas de adeptos de várias partes do país, a maior parte dos quais sociólogos, antropólogos, cientistas políticos e filósofos, todos imersos no volume de questões posto pela mais importante pandemia dos últimos cem anos, ocorrendo numa conjuntura política nacional marcada pelo negacionismo e pelo desprezo pelas medidas sanitárias recomendadas globalmente pela ciência. O resultado, aqui apresentado como uma seleção de textos entre os mais instigantes e originais, veio a constituir este livro organizado pelos professores Alexandre Werneck e Marcella Araújo.

Dividido em várias seções que aglutinam temas comuns, o conjunto das reflexões aborda as diferentes dimensões do desafio posto pela pandemia, por um lado, e pelo negacionismo, por outro, para o viver cotidiano nas condições de distanciamentos físicos, precauções e desejos ainda mais condicionados a regras que seu normal anterior. A alternativa, possibilitada pela internet e suas mídias sociais, de informação, sociabilidade e diminuição da distância social, não se revelaram completamente suficientes para prover, à falta do contato físico, o compartilhamento de emoções, olhares, troca de ideias e de performances – esse complexo jogo da vida social que, embora não impedido totalmente pelo isolamento físico observado, pareceu ainda assim tolhido, mesmo com o mundo virtual, pela ausência de seus contextos físicos, a rua, a praça, o botequim, a praia, o transporte público, a vizinhança, o cinema, o shopping, a noite... A metáfora da prisão ganhou, por um tempo, uma efetividade antes nunca vista pelo cidadão comum.

A experiência da pandemia, de uma perspectiva sociológica, abriu incríveis possibilidades reflexivas sobre as condições em que cada um de nós teve que lidar com as novas regras de convivência também com o aberto desprezo pelas mesmas regras por parte de um governo praticamente obrigado a exercer a biopolítica apesar e mesmo contra sua própria vontade. O potencial de novas e até mais perigosas pandemias entrou para ordem do dia da sociabilidade cotidiana e das políticas públicas preventivas. Este livro reflete e aponta para as exigências de um novo tempo.

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