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Este artigo analisa o impacto das relações assimétricas de "maestria" na criação e na perpetuação do parentesco. Seu foco etnográfico são os Kanamari, povo de língua katukina da Amazônia ocidental, que distinguem entre duas modalidades de distribuir e consumir comida: "alimentação", designando uma relação assimétrica de dependência; e "comensalidade", implicando relações mútuas de partilha de comida. A segunda categoria de relações deriva da primeira, que é a base a partir da qual o parentesco kanamari se constitui. A maestria é, desta forma, lógica e ontogeneticamente anterior à mutualidade. O artigo explora essa anterioridade através de uma análise das práticas de criação de xerimbabos, e dos laços entre mães e filhos e chefes e seguidores. Explora, ainda, a relação entre "alimentação", "comensalidade" e "predação", afirmando que, para os Kanamari, a alimentação é o meio para se transformar a predação em comensalidade.