Virgínia Leone Bicudo foi uma socióloga e psicanalista negra, que defendeu em 1945 uma dissertação chamada Estudos de atitudes raciais de pretos e mulatos em São Paulo, sob a orientação de Donald Pierson na Escola Livre de Sociologia e Política (ELSP). Nesse trabalho, Bicudo entrevistou pessoas pretas e mulatas de classe “inferior” e intermediária, além de investigar a atuação de uma organização chamada pelo pseudônimo Associação de Negros Brasileiros. O objetivo desta dissertação é entender a construção do pensamento de Virgínia Bicudo sobre o tema das relações raciais no Brasil, visto que ela construiu uma perspectiva teórico-metodológica própria na obra, para a análise dessa questão. Para isso, procuramos documentos nos acervos de diferentes instituições, a fim de reconstruir o contexto intelectual de Virgínia Bicudo indiretamente. Assim, concluímos que a dissertação de Virgínia Bicudo foi uma pesquisa inovadora. Em primeiro lugar, no plano teórico- metodológico, pois a autora mobilizou seu conhecimento sociológico, psicanalítico e sua experiência profissional como visitadora psiquiátrica; além disso, ela trabalhou com sua bibliografia de maneira crítica, sem reproduzir análises prontas dos autores. Em segundo lugar, pelas suas escolhas do material empírico, pois a principal base para as análises foram as entrevistas de pretos e mulatos, além de ter incluído a análise de uma organização do movimento negro no texto, mostrando nos dois casos que pretos e mulatos produziam discursos sobre si.