Informações Gerais
A escoliose idiopática do adolescente (EIA), descrita nessa pesquisa como uma condição de saúde, é em geral classificada pela literatura biomédica como uma doença crônica, que atinge majoritariamente, do ponto de vista epidemiológico, as pessoas do sexo feminino, insinuando-se a partir da adolecência. O objetivo geral desta tese foi observar e descrever como se organizam os itinerários terapêuticos das pessoas que convivem com a escoliose e aderem ao tratamento conservador conduzido pelo modelo de atenção fisioterapêutico por meio de uma etnografia realizada em uma clínica de fisioterapia no Rio de Janeiro. Os itinerários terapêuticos, traduzidos nessa pesquisa como itinerações, foram observados e descritos a partir das narrativas de pessoas que circulam pelo sistema de saúde na busca por tratamento. Este ângulo analítico permitiu que fossem explicados não apenas os caminhos trilhados ao longo dos modelos de atenção acessados, mas também a construção das ferramentas terapêuticas forjadas pelo modelo de atenção fisioterapêutico, um dos modelos de atenção buscados quando a escoliose é identificada como uma questão de saúde. O diagnóstico e os tratamentos para escoliose podem instaurar rupturas biográficas expressivas, permitindo que algumas itinerações possam ser lidas como odisseias da doença. A adesão ao modelo de atenção fisioterapêutico implica na construção de ferramentas terapêuticas nas quais os corpos das pessoas em tratamento são produzidos através de técnicas do corpo urdidas por esse modelo. A adoção deste tipo de tratamento implica em uma profunda compreensão do corpo a partir da qual as pessoas incorporam progressivamente habilidades, transformando-se em pacientes bem informados que não apenas colaboram, mas também participam da construção do tratamento. Ao observar e descrever como se organizam as itinerações foi possível construir uma etnografia que tornou transparente não apenas os impactos do diagnóstico e tratamento da escoliose, mas também as rupturas e continuidades entre os modelos de atenção que compõem o sistema de saúde, do ponto de vista de seus usuários. Além disso, a etnografia inscrita nessa tese torna possível compreender como o corpo constitui-se como instrumento e sede do tratamento na construção das ferramentas terapêuticas.