A presente tese contribui para o debate antropológico no cruzamento com a literatura sobre família e sociabilidade das populações afro-latino-americanas em contextos urbanos. A partir do trabalho etnográfico realizado em dois períodos distintos entre 2016 e 2018, busco analisar os processos de sociabilidade e de territorialidade que perpassam a história de uma família afro-uruguaia radicada em La Teja, zona oeste de Montevidéu, desde o princípio do século XX, e seu vínculo com o candombe. Dado que, há três gerações, a prática candombera tem ocupado lugar fulcral na socialização familiar, discorro sobre suas cuerdas e comparsas desde a década de 1940/1950 até os dias atuais. Examino de que modo a comparsa Cenceribó, da qual essa rede de parentesco constitui seu alicerce, é gerida a partir das relações de reciprocidade formadas por numerosos laços parentais, amicais e vicinais. Exploro, para isso, os dispositivos centralizados pela movida candombera no transcorrer de eventos cotidianos, cíclicos e rituais como os toques barriais, os desfiles, a comensalidade e o convívio permanente entre seus componentes, concluindo que estes funcionam como mecanismos de pertencimento, tornando uns aos outros familiares. Para entender como se constroem os elos relacionais a partir do candombe, estudo as zonas de tensões, disputas e as dinâmicas sociais estabelecidas entre as lideranças, os referentes e os componentes da comparsa. Em paralelo, investigo os termos afetivos/territoriais relativos a determinados espaços da vizinhança (casas, clubes, quadras e esquinas), bem como a mobilização de sua base de apoio. Se a sociabilidade candombera e no entorno dos clubes e vizinhança é mais centralizada nos homens, as mulheres são as agentes capitais na produção e na manutenção da familiaridade, na pertença territorial e no processamento das redes de solidariedade. Analiso, pois, como se dá este modo de vida fomentado no cotidiano familiar e vicinal que, permeado pela fuerza dos tambores, tem na experiência candombera também uma forma de reprodução da parentalidade.