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O objetivo desta tese é analisar a produção de soja entre assentados do meio norte de Mato Grosso, refletindo sobre as possibilidades e os limites desse campesinato exercer o controle dessa modalidade de produção comercial e as relações sociais que a sustentam no âmbito dos assentamentos rurais. Os dados que fundam a descrição etnográfica foram produzidos a partir do trabalho de campo realizado em assentamentos rurais situados em uma área emblemática do agronegócio em Mato Grosso entre 2012 e 2014. Metodologicamente, mapeou-se pequenas redes articuladas entorno de determinadas composições de áreas de lavouras de soja, observando-se a divisão das atribuições referentes a essa modalidade de produção entre os indivíduos em relação aos recursos que controlavam. Por conseguinte, procurou-se compreender como se produzem ou reproduzem obrigações sociais entre os indivíduos envolvidos, por meio do exame da construção de acordos e de trocas, de modo a revelar as diferenças e as posições entre as partes que se relacionam. A partir disso, a pesquisa contém, além da análise das propriedades e características dos assentamentos da pesquisa e dos assentados em sua heterogeneidade, o exame sistemático das redes de indivíduos mobilizados no entorno das lavouras comerciais, atravessando as relações entre membros de um mesmo grupo doméstico, da família, da vizinhança, entre assentados e produtores (e/ou fazendeiros), além da relação com agentes do mundo dos negócios ligados às firmas e revendas agrícolas. Nesse sentido, a tese pretende demonstrar que, no contexto dos assentamentos, há um conjunto de indivíduos que se articulam de diferentes maneiras para tornar viável uma modalidade de produção comumente associada a grandes explorações agrícolas. É por meio dessas articulações, nem sempre concretizadas somente no âmbito da produção agrícola, que é mobilizado (ou ao menos se busca mobilizar) um conjunto de recursos necessários – não restritos à terra e ao trabalho – permitindo a esses assentados alguma margem para lidar com os fatores não controláveis associados à própria cadeia produtiva da soja. Procura-se evidenciar o que está em jogo nessas articulações que conformam o controle das lavouras no âmbito dos assentamentos estudados. Nessa reflexão, observa a existência de relações sociais não regidas plenamente pelos princípios do “sistema de mercado”, a partir da qual derivam múltiplas práticas econômicas que vão ser fundamentais para entender as diferentes maneiras com que os assentados se integram à própria modalidade de produção dominante, suas implicações, seus limites e que relações sociais se produzem ou se reproduzem associadas à mesma. A pesquisa demonstra que a participação dos assentados na produção de soja, ao contrário do que se supõe, explica-se menos pela assunção de lógicas associadas ao homo economicus e mais por uma série de mecanismos que configuram suas práticas em meio a redes de interconhecimento e interdependência entre as unidades econômicas, pelas quais se constroem obrigações que estruturam as relações sociais no universo de pesquisa. A sustentação da lavoura de soja nesse contexto, ainda que possa ser classificada como uma expressão de uma cadeia produtiva de alcance internacional, é aqui examinada como parte das práticas econômicas integradas no âmbito da vida social. É no jogo dessa complexa trama que se estabelece a luta pelo controle da lavoura, aspecto central, embora não exclusivo, para produzir e reproduzir as relações de poder entre os agentes no contexto dos assentamentos rurais.

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