Esta é uma tese sobre como itinerários terapêuticos (IT) são construídos em contextos de precariedade no Sistema Único de Saúde (SUS). Para investigar essa questão, acompanhei durante dois anos pessoas residentes na cidade do Rio de Janeiro com doenças incuráveis que dependiam do tratamento oferecido pelo SUS para sobreviver. Essas histórias foram organizadas na forma de estudos de casos, construídos a partir da categoria situação de entrave na utilização, que se mostrou uma unidade de análise potente para se apreender as dimensões de precariedade, crise, e desagência que podem vir a atravessar a experiência de utilização do SUS, bem como os processos de retomada de agência empreendidos pelos atores a partir daí. Ao final da pesquisa, ficou evidente que os episódios de precariedade impedem o SUS de operar como um sistema, sendo os IT nesse contexto construídos na forma de sistemáticas: trajetórias de cuidado singularizadas, caracterizadas pela associação entre o movimento da crítica, da investigação e da busca por dispositivos que sucedem a crise e a desagência com a finalidade de se efetivar a utilização e, enfim, obter o tratamento almejado.