Esta dissertação tem como objetivo refletir sobre a sociabilidade das familiares de presos em grupos da rede social Facebook e delinear como esses espaços criados, coordenados e integrados por mulheres e mães de presos tornam-se ambientes propícios para interações, críticas, prestações de contas e denúncias públicas, voltados para o reconhecimento da humanidade de suas integrantes e dos presos. Para isso, a pesquisa, baseada na análise semiótica das postagens nos grupos analisados, segue a pista do conceito de guerreira, dispositivo frequentemente mobilizado por elas como autodenominação, em um mundo discursivo e moral próprio, cujo significado metafórico positiva suas identidades estigmatizadas. O ponto de partida da análise é o linchamento virtual de uma mulher de preso em ambiente hostil das redes sociais, externo aos grupos, para demonstrar a estigmatização das familiares de presos e servir de contraexemplo da coordenação e dos mecanismos de proteção proporcionados pelos grupos em estudo. Em seguida, a pesquisa percorre os principais temas abordados nesses espaços, classificados conforme sua potencialidade de construção de identidade das guerreiras, os mecanismos de coordenação e crítica dos grupos e os possíveis encerramentos das trajetórias das familiares de presos. Orientada pela sociologia da moral, pela sociologia das prisões e pela antropologia do Estado, esta dissertação aposta na relevância dos espaços coordenados de sociabilidade para a positivação de identidades estigmatizadas, por meio do esforço metonímico de pertencimento a uma categoria cujo significado remete ao sofrimento, à coragem, ao sacrifício e à tenacidade.