Este estudo foi realizado durante trabalho de campo em uma casa transreligiosa no Riode Janeiro que faz uso de medicinas indígenas, notadamente a ayahuasca e o rapé. Busca-se desvendar a cosmologia e ontologia nativa através dos desenhos que sãoproduzidos durante as cerimônias. A Arca da Montanha Azul bebe de uma tradição ayahuasqueira anterior que remonta ao conhecimento ameríndio e às três religiões tradicionais do Brasil, quais sejam, o Santo Daime fundado por Raimundo Irineu Serra, a Barquinha fundada por Daniel Pereira de Mattos e a União do Vegetal fundada por José Gabriel da Costa, formando um lugar de sínteses de diferentes elementos religiosos. Analisam-se desenhos produzidos durante as cerimônias, localizando-os contextualmente a fim de que possam auxiliar no entendimento da cosmologia e ontologia nativas. Aliteratura acadêmica nas áreas de antropologia, psicologia e ciências da religião deram respaldo para uma etnografia onde em campo realizou-se observação participante com uma frequência contínua nas cerimônias no período de dois anos. A cosmologia nativae m construção envolve relacionar-se com o mundo a partir de uma perspectiva específica do sagrado. O cotidiano dos praticantes está envolvido em um certo grau de ritualizaçãoda vida, onde a conexão com o divino é sempre valorizada; essa conexão se constrói através de técnicas de mentalização e/ou orações de diferentes tradições. Além da perspectiva religiosa estrita, outras técnicas são utilizadas para o desenvolvimento da individuação dos praticantes, tais como a meditação e a psicoterapia. Ontologicamente os praticantes nutrem um modo de ser que percebe a sua existência integrada a outros seres e entidades construindo sua subjetividade a partir da relação com um sagrado concebido como eucumênico. Em texto dissertativo os desenhos foram analisados à luz do contexto e discurso nativos. Conclui-se que os desenhos participam das cerimônias como entidades portadoras de agência revelando assim uma troca intersubjetiva entre os praticantes e suas produções artísticas. Palavras-chave: antropologia, ayahuasca, arte, desenhos, espiritualidade.