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Esta tese é um estudo etnográfico sobre emergência étnica, relações interétnicas e rivalidade a partir dos Arara da Volta Grande do Xingu, povo Karib habitante da Terra Indígena Arara da Volta Grande do Xingu, Senador José Porfírio - PA. Privilegiando os campos da história e organização social, o autor investiga a forma como esse grupo articula noções de identidade e diferença em um contexto multiétnico e em franca transformação socioambiental, no qual incidem relações com outros povos indígenas e não-indígenas, empresas, organizações missionárias, organizações não-governamentais e o Estado brasileiro. A tese se abre em duas vertentes. Na primeira, exploram-se as dinâmicas mantidas pelos indígenas com o Programa Básico Ambiental – Componente Indígena da Usina Hidrelétrica de Belo Monte atualmente em vigor. Na segunda, o processo de afirmação política da identidade étnica e da luta pelo reconhecimento junto ao Estado brasileiro empreendido por esse povo na virada do século XXI. Ao remontar o processo de afirmação étnica Arara, o autor demonstra como as fórmulas desenvolvidas por esse povo nessa fase moldaram a forma como eles percebem sua história, a maneira de se relacionar e a posição que ocupam frente aos demais povos da região. Aproximando esses dois momentos distantes temporalmente, a tese visa identificar as noções nativas que conectam de maneira complexa os diferentes coletivos indígenas da Volta Grande e da cidade de Altamira, expresso pela noção nativa de “mistura”, bem como a dinâmica que impulsiona a diferenciação, enfatizando o papel da rivalidade como importante operador de diferenças. Como conclusões, o autor delineou um conjunto de temas etnológicos que se repetem nas etnografias sobre povos indígenas do médio Xingu que mantém longo contato com a sociedade nacional, como mistura, emergência étnica, organização a partir de famílias, o papel de reformadores indígenas e função operativa das rivalidades entre famílias indígenas para emergência de novas aldeias e coletivos etnicamente diferenciados. Assim, além de buscar aproximar o caso Arara dos modelos interpretativos mais gerais para povos indígenas das Terras Baixas da América do Sul, o autor propõe uma agenda comparativa a nível regional pelo prisma dos sistemas multiétnicos, em detrimento de considerar cada povo como um grupo étnico territorializado, modelo amplamente disseminado nas etnografias da região. Tomar a Volta Grande do Xingu e a cidade de Altamira como integrantes de um sistema multiétnico implica em reconhecer as redes e fluxos que conectam os diferentes povos da região, que se expressam pelas ênfases dadas por cada um aos temas acima mencionados. Essa abordagem apresenta a vantagem de adereçar os constantes reposicionamentos étnicos e os trânsitos entre indígenas e não indígenas nas diferentes localidades que fazem parte desse sistema.

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