A dissertação inscreve-se num esforço de resgate da sociologia política do Nordeste no debate público e na pesquisa acadêmica sobre as relações entre público e privado e entre Estado e sociedade no Brasil. A obra de Nestor Duarte constitui uma perspectiva privilegiada para o enfrentamento do problema. Interessa-nos, em primeiro lugar, discutir a unidade da sua reflexão em textos de gêneros diversos como os ensaios “A Ordem Privada e a Organização Política Nacional (1939)” e “Reforma Agrária” (1953) e o projeto de lei de Reforma Agrária (1947) apresentado por Duarte no Congresso Nacional; em segundo, mostrar como sua reflexão dialoga com ensaios clássicos de interpretação do Brasil e com o debate sobre reforma agrária naquele contexto. Nossa hipótese é que compartilhando o diagnóstico mais amplo de que o baralhamento entre público e privado constituiria um problema central para a vida democrática brasileira, a reforma agrária representaria, para Duarte, a possibilidade de reordenamento da própria relação entre esses polos, criando relações mais democráticas entre Estado e sociedade no Brasil. A pesquisa que está na base da desenvolvida por essa dissertação diz respeito a um experimento mais amplo que, durante o ano de 2023, buscou articular produção de conhecimento, ensino na graduação e divulgação científica sobre o que estamos chamando de uma sociologia política do Nordeste. E é com base, em grande medida, nessa experiência – que também pode ser caracterizada como um aprendizado social do conflito pela terra –, que situamos Nestor Duarte nos quadros de uma sociologia política do Nordeste. Desde as Ligas camponesas, passando por outras formas de luta pela terra no Nordeste, até as inovações institucionais e políticas públicas que vão ganhar corpo com governos de centro-esquerda, como especialmente as experiências de orçamento participativo, vai se formando um aprendizado social da cidadania e da democracia que, a nosso ver, se coloca na base das relações políticas contemporâneas.