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Esta tese investigou o papel da diferenciação qualitativa do ensino superior para a heterogeneidade dos retornos do diploma universitário no mercado de trabalho no Brasil. Com os aportes dos estudos sobre estratificação horizontal no ensino superior e mobilidade social entre graduados, avaliou-se também o efeito da origem familiar sobre os resultados ocupacionais. Para tanto, foram utilizados os dados combinados do Enade (2009-2011) e da Rais (2013-2015), que permitiram analisar os efeitos da sua origem social e de sua formação universitária sobre os resultados no mercado de trabalho. Foram considerados dois tipos de retornos para o diploma: a probabilidade de estar empregado e a remuneração no emprego principal quatro anos após a conclusão do ensino superior. Diferentemente de trabalhos recentes, consideramos na nossa análise os graduados de todas as áreas avaliadas em um ciclo completo do Enade e realizamos, além do trabalho de descrição dos dados, exercícios multivariados com modelos de regressão linear e logística para ver em que medida as diferenças observadas no mercado de trabalho sobreviveriam a um exame mais rigoroso. Esses exercícios foram organizados em duas perguntas de pesquisa gerais: primeiro, em que medida a heterogeneidade de resultados dos egressos no emprego formal é explicada pelas diferentes características da formação no ensino superior, incluindo as áreas de estudo e o tipo de instituição frequentada? E, segundo, como as desigualdades sociais nos retornos ao diploma no emprego formal estão relacionadas às diferenças qualitativas na formação no ensino superior? Os resultados do primeiro exercício indicaram tanto a complementaridade de diferentes “mecanismos” de ligação entre ensino superior e o emprego formal, quanto a heterogeneidade dessa ligação entre as áreas de estudo e setores do ensino superior. Características que outros estudos consideram concorrentes como fatores de ligação entre educação e trabalho, como experiência de trabalho (proxy comum de sinalização) e domínio de conhecimentos específicos à carreira (indicadora de capital humano), têm, ambas, consequências positivas tanto sobre a probabilidade de estar empregado, quanto sobre a remuneração. Também vimos que esses atributos interagem diferentemente com os vários resultados considerados: a experiência de trabalho parece fazer mais diferença para a entrada no emprego, enquanto a posse de conhecimentos tanto gerais quanto específicos impacta em maior grau a remuneração dos empregados. Em segundo lugar, estimamos como essa relação tão heterogênea entre a formação universitária e o trabalho varia entre as áreas de estudo. Os resultados deram suporte às nossas hipóteses de que a experiência prévia de trabalho seria mais importante nas áreas menos específicas (como Humanidades e Ciências Sociais), enquanto a posse de conhecimentos gerais seria menos importante nas áreas mais específicas. Os resultados apontaram para padrões variados de desigualdade de acordo com a área de estudo e o setor da instituição. Encontramos que os graduados com pais com ensino superior, em todas as áreas de estudo, são aqueles menos propensos a estarem empregados formalmente, mas são os que obtêm os maiores salários quando empregados. No entanto, vimos que o setor da instituição também afeta as chances de emprego e a remuneração, com os egressos de instituições privadas tendo as maiores probabilidades de alcançar o emprego formal, mas recebendo os menores salários entre aqueles empregados. Por último, os resultados mostraram que a relação entre a origem social dos graduados e os resultados no emprego formal, sobretudo a probabilidade de estar empregado, apresenta variações importantes entre as áreas de estudo. Como esperado, vimos que as diferenças por condição socioeconômica na entrada no emprego formal são maiores nas áreas menos específicas em termos ocupacionais e naquelas carreiras que exigem formações ou certificações adicionais. Diferentemente do que esperávamos com a nossa segunda hipótese, as disparidades sociais nos salários assumem magnitudes equivalentes entre as áreas de estudo, sem que sigam um padrão distinguível por grau de especificidade ocupacional. Além de oferecer uma descrição detalhada da relação entre diploma e emprego para três coortes recentes do ensino superior no Brasil, a nossa análise também sugere algumas considerações de natureza teórica. Os resultados oferecem diversos indícios de que o grupo de graduados que acessa o emprego formal pouco após a conclusão do ensino superior, sobretudo nas áreas de menor valor econômico e social, é composto principalmente por pessoas que tiveram uma origem familiar menos favorecida. No entanto, entre aqueles empregados, são os egressos socialmente privilegiados que apresentam vantagens salariais consistentes, com a área de Medicina sendo a exceção que confirma a regra. Assim, o quadro geral de resultados parece apontar para a importância dos recursos econômicos, culturais e sociais dos pais para a alocação inicial dos graduados no mercado de trabalho, tal como preveem teóricos da reprodução social.

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