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A regulamentação dos medicamentos genéricos no Brasil tornou-se uma realidade com a promulgação da Lei 9787 de 1999. Desde então, os medicamentos genéricos passaram a ser um dos principais recursos para os brasileiros no cuidado com a saúde. Ao mesmo tempo, uma indústria farmacêutica nacional foi estabelecida e desenvolvida com a ajuda de programas de crédito e financiamento criados em conjunto com essa lei. Os medicamentos genéricos no Brasil devem, por lei, ser 35% mais baratos que os medicamentos de referência, mas não é raro que os descontos cheguem a 70%. Por conta de sua acessibilidade e proliferação - em grande parte devido à criação de um sistema público de saúde (SUS) -, os genéricos representaram 40,9% de todos os medicamentos vendidos no Brasil - em embalagens - em 2022 e 15,1% do faturamento do setor farmacêutico brasileiro no mesmo ano. Hoje, os genéricos se estabeleceram como um mercado de commodities por si só e produzem um circuito distinto das demais classes de medicamentos. Eles têm suas próprias feiras, independentes das feiras médicas, e muitas vezes são prescritos informalmente nos balcões das farmácias, dispensando a orientação médica. Além disso, a incorporação dos medicamentos genéricos na vida cultural dos brasileiros se deu de forma particular, pois não é raro que eles sejam entendidos univocamente como uma vitória ou um progresso, seja no campo da saúde pública ou da economia. Minha pesquisa tem por objetivo mapear o circuito dos medicamentos genéricos no Brasil e os diferentes atores e saberes que esse circuito atravessa. Compreender o medicamento genérico não apenas como um objeto da ciência com propriedades naturais, mas também como um objeto popular com propriedades culturais. O projeto de pesquisa se baseia em perseguir o medicamento genérico através dos circuitos que ele produz, incluindo produção, distribuição e consumo para melhor compreender dinâmicas de saúde no sul global. Esta abordagem metodológica permite compreender o medicamento genérico a partir dos diferentes enunciados produzidos sobre ele, seja por farmacêuticos, vendedores, proprietários de farmácias, médicos ou pacientes. Estudos preliminares realizados nas etapas de produção e distribuição indicaram uma pluralidade de diferentes entendimentos sobre os medicamentos genéricos, ora considerados como mercadorias, ora como moléculas, ora como produtos curativos. Minha hipótese principal é que os medicamentos genéricos, como outras parafernálias da ciência e da tecnologia, têm uma vida social e uma biografia cultural que os inscrevem em regimes de compreensão exteriores ao saber socialmente legitimado da biomedicina.

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