Este projeto visa expandir e aprofundar a etnologia das relações assimétricas na Amazônia Indígena. O seu tema central é a figura do ‘mestre’ ou ‘dono’ e a configuração relacional que a sustenta e constitui, que eu denomino de ‘alimentação’. Esta figura e sua configuração relacional elementar associam-se a conceitos elaborados por outros pesquisadores, como ‘metafiliação’ e masterhood. O foco etnográfico em que se baseia a proposta concerne os povos indígenas falantes de línguas Arawá, Katukina e Pano da região dos médios cursos dos rios Juruá, Purus e Javari, no Estado do Amazonas, mas busca-se extrapolar esses limites geográficos. As pesquisas reunidas no projeto exploram os contornos e limites da alimentação e das categorias geradas por meio desta relação nos mais diversos campos, incluindo os laços entre mestres dos animais e sua prole, donos e xerimbabos, xamãs e espíritos familiares, pais e filhos, chefes e seguidores, deuses e humanos, dentre outros. Assim, o projeto tange temas clássicos da antropologia, como o xamanismo, a chefia e a ação política, o ritual, e a relação dos povos indígenas com os estados nacionais, embora o faça de modo transversal: revelando uma categoria e uma relação que se mantêm mais ou menos constante conforme atravessamos estes diferentes domínios. Apostamos que a maestria não só é um operador sociocosmológico básico que apenas recentemente começamos a elucidar, mas que a sua elucidação nos obriga a repensar a forma como descrevemos a Amazônia.