Recentemente, ao revirar caixas de documentos em minha sala no IFCS-UFRJ, descobri várias anotações do trabalho de campo realizado nos anos de 1975 e 1976, durante pesquisa sobre os presos da Casa de Detenção de São Paulo. Essas notas, que julgava perdidas, foram essenciais para a redação do meu livro Mundo do Crime: a ordem pelo avesso (1979, 1983). Nesse registro etnográfico das impressões sobre as visitas ao presídio e das entrevistas realizadas com os detentos, procurei descrever e refletir sobre os desafios enfrentados durante a investigação. Parte dessas observações foi relatada no livro. Agora, neste texto, reapresento alguns desses registros, meio século depois. Acredito que essa recuperação pode de alguma forma dialogar com o vasto conjunto de pesquisas e escritos sobre o tema elaborados ao longo dessas décadas, ao mesmo tempo em que revela um pouco do cotidiano do principal e maior centro de detenção do país, marcado pelo terrível massacre de presos pela polícia militar, ocorrido em 1992 e pelo fato de não mais existir, tendo sido implodido em 2002.